13 de Novembro de 1994. Cine-Teatro da Lousã. Os Apollo Errante, Ratius e Vonavêmor são os cabeça-de-cartaz de um espectáculo de solidariedade para com Rosa Maria Bernardo, que se deslocou a Cuba para ser submetida a tratamento médico. Foi uma noite memorável... pelo menos, para quem pisou o palco e acredito que também para quem assistiu à actuação das três bandas lousanenses.Os Apollo Errante, nesta altura, viram a sua formação reforçada com a entrada de Fernanda Mingachos (voz e coros) e Nuno Marques (guitarra).
A 15 de Dezembro de 1994, o jornal Trevim publicava na página 13 um artigo de opinião sobre este concerto de solidariedade. O texto é da autoria de António Paulo Nunes e aqui fica reproduzido na íntegra:
(Des)concerto de solidariedade
ROCK (ALHEIO)
É da minha inteira convicção que se fosse o "Você Decide" - parte qualquer que fosse, encontraríamos tanta gente que a senhora repórter teria de vir também à rua para sacar a opinião de tantos entusiastas. É. Pelos vistos, solidariedade não faz parte do vocabulário lousanense. E se não fosse um concerto... "p'à malta" curtir...
Mas viva a música e os prazeres que ela encerra, visto que a noite prometia com os Apollo Errante e os Vonavêmor (que traziam na "bagageira" - leia-se curriculum - uma passagem pelo Rock Rendez Vous) e ainda, para acabar (e entenda-se como banda principal (como se dizia cá fora, à boca pequena) que "agora vêm aí... os Ratius".
Aos Apollo Errante coube a tarefa de aquecer os ânimos. E bem o conseguiram. Num ambiente que mais parecia um qualquer colóquio de letras e intelectuais ou recital para eruditos, eles quebraram o gelo e entusiasmaram. Agradável, não tão surpresa assim, foi a voz de Fernanda Mingachos, que veio variar o melo-dramatismo das harmonias de Carlos Alberto Sêco. Bons instrumentalitas, ainda têm muitos palcos a percorrer e algum trabalho a realizar para demonstrarem sem medos nem dramatismos do que são capazes. Para os Apollo, uma palavra de coragem.
O que são os Vonavêmor? Excelentes instrumentistas (não fossem quase todos estudantes de Conservatório) trouxeram a energia e a vivacidade de "putos" que querem mostrar o seu valor. Puxaram pelo público, leia-se "fans-fanáticos-apinhados-a-querer-trepar-ao-palco"! Até eram excelentes se fossem mais originais. Se cada introdução parecia querer dizer sim, é agora! era pura miragem! E lá vinha aquela amálgama, porque os putos acham que é bom, é "cool"!
O Hélder Bruno lembrou-me que estão a morrer os cantores e só ficam "assassinos". A agressividade positiva não se consegue só porque se berra e se dá pulos a abanar o "cabelão" (principalmente para quem, ainda há pouco, fazia música para meninos bem comportados). Não acham?
Nos Vonavêmor há criatividade a sério, maturidade musical q.b., mas onde está o toque de génio que fica na guitarra do Nuno Mouronho? Onde está o genuíno?
Só mais uma achega: quem viu e quem vê a bateria da Patrícia. Parabéns.
Os Ratius foram introduzidos como se entrassem a correr e foi assim: sem alma, quase sem corpo! Para tanto, ajudou a "super-guitarra" do Cristiano que abafou todo o resto. Esqueceram-se de puxar pelo público e ficaram à espera que o pessoal puxasse por eles. Mais uns minutos, ficariam a tocar sozinhos e mal, do tipo: ensaio!
Mas se, como se disse, o som estava péssimo, a postura distante do António Carlos (vulgo, "Rato"), com o seu ar de desnorte, "desanciou" os mais expectantes apreciadores da banda. E se, das três, são a mais original, pena é quem ouve um tema, ouve quase todos. Salva-se a simplicidade cruel das letras. a vontade, às vezes, não é suficiente.
Salvaram-se, no entanto e principalmente, umas tantas ou quantas bocas a que o "rato" já nos habituou.
Como nota final, imaginem quem foi seleccionado para o concurso de música moderna do Cascos de Rolha Bar, de Paços de Ferreira? Sem prémio, Apollo Errante e Vonavêmor.
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